segunda-feira, 8 de maio de 2023

OURO E PRATA DOS INCAS NO PÂNTANO DO SUL

 

OURO E PRATA DOS INCAS NO PÂNTANO DO SUL


"João Dias de Solis, a serviço da Espanha, em 1515, desce com sua armada toda a costa sul brasileira e penetra no estuário do Rio Santa Maria, depois da Prata.
     Em abril de 1516, voltando, um temporal faz com que 3 de seus navios tocassem na ilha, daí a sua baía ter recebido o nome de “Baía dos Perdidos”, denominação que não pegou porque ficou sendo conhecida por “Porto dos Patos” ou “Porto da Ilha dos Patos”, nomes dados pela expedição de Cristovão Lopes Haro, que por aqui passou em 1514.
      A noite, um forte vento atirou uma caravela contra os rochedos de uma ponta da ilha ( Ponta dos Naufragados )  e só 16 tripulantes conseguiram chegar em terra ( entre eles, o alferes Melchior Ramirez, Gosçalo da Costa, Aleixo Garcia, Francisco de Chaves, Francisco Fernandez, Henrique Montes, José Sedenho e o mulato Francisco Pacheco).
Destes, muitos se amancebaram com índias carijós e tiveram filhos. ( carta de 28/7/1524 do embaixador João de Zuñiga a Carlos V). Nove deles, em fins de 1521, foram aí encontrados por Cristovão Jacques que levou um deles ( alferes Melchior Ramirez) como turgimão ( ou dragomano, nome dado aos intérpretes das delegações ou consulados no Oriente) para o Rio Santa Maria, prometendo aos outros que os levaria de regresso à Europa. Trouxe Ramirez na volta, que quis ficar em Santa Catarina e não cumpriu a promessa feita aos outros.
     Aleixo Garcia, que era português e estava entre os náufragos, tendo-se integrado na vida dos carijós, aprendido a língua e se amasiado com uma índia, ouvindo falar na Serra da Prata, reuniu um grupo de índios e internou-se no sertão, entre 1524 e 1526.

No caminho, outros índios guaranis foram se juntando à expedição e Garcia chegou com mais de 2 mil deles até a Bolívia, onde atacaram e saquearam Misque e Tomina. Ao regressar a expedição, Garcia foi assassinado por companheiros brancos que pouco depois foram dizimados no Paraguai pelos índios paiaguás. Mas alguns carijós, mandados na frente da expedição, chegaram a Meiembipe com objetos de ouro e prata ( pesando de duas a três arrobas ), destinados ao mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe, na Espanha. Do grande tesouro roubado dos Incas, só restou isto e a notícia da existência deste povo e desta riqueza, informação que se espalhou com os guaranís, até o Rio Santa Maria ou Rio de Sólis ou Rio da Prata.
     Após a descoberta da “passagem” para o Pacífico – o Estreito – por Fernando de Magalhães, em 1520, as expedições em busca das Molucas ou Malacas se sucedem. Integrando a armada de Frei Jofre Garcia de Loaysa, em 1525, veio o galeão São Gabriel, sob o comando de D. Rodrigo de Acuña. Em outubro, já quase na Patagônia, a armada foi colhida por ventos e temporais que a fizeram retroceder.

O São Gabriel, a 1 de maio (ou  março) de 1526, fundeava na extremidade sul da Ilha de Meiembipe; acorrem logo em uma canoa Henrique Montes e o alferes Melchior Ramirez que fizeram levar o galeão para a enseada do Pântano do Sul, depois chamada Porto de D. Rodrigo. Aí estiveram por mais de dois meses os espanhóis, abastecendo-se de água, lenha e mantimentos, obtidos dos carijós pela solicitude de Henrique Montes, que também contou que dos náufragos de Sólis só quatro existiam agora na região (sete tinham ido para a baía dos Santos Inocentes ou Santos, e os outros tinham acompanhado  Aleixo a uma expedição, da qual uns índios haviam trazido objetos de ouro e prata).

     “No dia 4 de maio o comandante determinou ao tesoureiro e ao contador que decessem à terra e trouxessem umas arroubas de prata e de ouro, bem como as provisões compradas e o respectivo vendedor que seria pago. No regresso, quando já se encontravam perto de galeão, foi ao fundo o batel em que viajavam, perecendo 15 dos seus 23 ocupantes, inclusive os mencionados funcionários. Perderam-se as virtualhas ( o mesmo que víveres )
e os metais.
Na manhã ulterior era o batel retirado e entregue aos carpinteiros e calafates que, em quatro dias, o deixaram reparado. Quando foi levado a bordo do galeão, alguns de seus condutores disseram a D. Rodrigo que o contramestre Sebastião de Villa Real assentara de ficar e lhe pedia a devolução da roupa. Em dez dias, nove lhe seguiram o exemplo, uns com licensa e outros sem ela. Tão boa era assim a terra e os carijós, que prendiam os europeus.”

( Trecho de carta )

    O São Gabriel partiu, levando 120 arrobas de farinha e 16 de feijão, além de patos, galinhas, mel e lenha, tudo adquirido dos carijós. Haviam desertado dezessete e, dentre os já referidos, Luis de León, Miguel Biscainho, Nicolau Cañon, Pedro Ayala e um certo Durango, além daqueles cujos nomes não chegaram até nós.
     Como os antigos espanhóis que se amancebaram com as índias já tivessem muitos filhos, pagãos, o comandante antes de partir mandou o capelão os batizar – o que foi feito no meio de uma festa, quando o São Gabriel acabou de ser consertado.
     Assim, ficaram no fundo da enseada de Pântano do Sul o ouro e a prata dos Incas."

(Relato do historiador Aujor Ávila da Luz em "Santa Catarina - Quatro Séculos de História - 1600 a 1900" - Editora Insular / 2000)

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