segunda-feira, 8 de maio de 2023

CASA DO PEQUENO JORNALEIRO DE CURITIBA

 CASA DO PEQUENO JORNALEIRO DE CURITIBA


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Pequeno Jornaleiro em Curitiba, década de 1950.

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CASA DO PEQUENO JORNALEIRO DE CURITIBA
"Extra! Extra!”! bradavam os pequenos jornaleiros, postados nas esquinas do centro da cidade. Cada um atuava no seu ponto de venda demarcado, devidamente trajado com o uniforme da Casa do Pequeno Jornaleiro, a postos, cedinho, para receber o trabalhador apressado.
Criada em 1943, a Casa destinava-se, segundo seu estatuto: “(...) a amparar, educar e encaminhar os menores vendedores de jornais, prestando-lhe assistência material, moral e intelectual. A partir da moralização pelo trabalho, uma estratégia pedagógica no combate à delinquência infanto-juvenil, prestando-lhes assistência educacional e material", pretendia organizar meninos que já exerciam a função de vendedores de jornais.
Sua instalação aconteceu à Rua Saldanha Marinho, nº 155, próximo à Catedral de Curitiba. A inauguração foi no dia do natal de 25 de dezembro de 1943. A novidade foi assim noticiada pelo jornal Gazeta do Povo, à época:
"Para a inauguração da Casa do Pequeno Jornaleiro, foi organizado expressivo programa de festejos, cuja execução obedece-à a seguinte ordem: A‘s 7 horas – Concentração dos jornaleiros na sede da rua Saldanha Marinho; A‘s 8 horas – Missa solene na Catedral metropolitana, em ação de graças, oficiada por D. Atico Euzébio da Rocha; A‘s 9 horas – Hasteamento do Pavilhão Nacional, na fachada principal da sede da Casa do Pequeno Jornaleiro; A‘s 9,15 horas – Benção do edifício, por D. Atico Euzébio da Rocha, Arcebispo Metropolitano; A‘s 9,30 horas – Café no refeitório da Casa do Jornaleiro, servindo ás autoridades. Depois de ser servido o café, dar-se-à a instalação da Casa do Pequeno Jornaleiro, que entrará assim a prestar sua assistência aos pequenos vendedores de jornais. Concretizada essa cerimônia, os jornaleiros, formados e puxados pela banda de musica e de tambores da Força Policial do Estado e devidamente uniformizados, desfilarão pelas principais ruas da cidade, em seguida, para a Grande Exposição de Curitiba, onde inaugurarão o majestoso pavilhão do Ministério da Justiça".
Na casa, os internos recebiam café, almoço e jantar, e acabou não se limitando aos pequenos jornaleiros: pequenos engraxates também passaram a ser atendidos a partir de 1957. E é importante ressaltar: os internos também recebiam a educação primária: A estrutura de ensino era dividida em 5 séries (ensino primário), onde os pequenos jornaleiros de cada série, ao final do ano letivo, eram submetidos, por uma banca examinadora designada pela Diretoria Geral de Ensino do Estado, a provas orais e escritas.
Porém, a instituição parece que nem sempre funcionou às mil maravilhas, como o projeto pretendeu: Aldo Brito Lima foi um dos internos, admitido no de 1949. Mais de 60 anos depois, em 2011, ele contou sua experiência ao jornalista José Carlos Fernandes, que publicou a seguinte história, mostrando o “outro lado da casa”, revelado pelo ex-interno, que tinha 75 anos quando deu a entrevista:
"No abrigo, cada norma uma sentença. Levantar-se às cinco. Banho uma vez por semana – gelado. Troca de roupa, às sextas. Se comprasse comida com a venda dos jornais, palmatórias. Para que bem entendesse, abriram-lhe um armário – ali dentro cumpria castigo escuro, vestido de saia, um pequeno jornaleiro humilhado. Manhã bem cedo o bedel batia a chave de ferro no osso do tornozelo para acordar os piás. Em caso de manha – pé de ouvido e nem um pio. “Tenho orelha grande de tanto puxão...”, disse-lhe um colega órfão. Não tinha graça. À mesma hora, nos mesmos pontos da cidade, tinham de fazer solos e cantar a manchete: “Morreu Francisco Alves, matou o amante em hotel da Ri-a-chu-e-lo”. No almoço, serviam feijão, arroz e carne de terceira. À noite, escola e cochilo em cima dos livros...".
(Fonte: Casa da Memória de Curitiba. - Fotos: Casa da Memória, gazetadopovo.com, Fotografando Curitiba)
Paulo Grani

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