CASA DO PEQUENO JORNALEIRO DE CURITIBA
Pequeno Jornaleiro em Curitiba, década de 1950.
CASA DO PEQUENO JORNALEIRO DE CURITIBA
Criada em 1943, a Casa destinava-se, segundo seu estatuto: “(...) a amparar, educar e encaminhar os menores vendedores de jornais, prestando-lhe assistência material, moral e intelectual. A partir da moralização pelo trabalho, uma estratégia pedagógica no combate à delinquência infanto-juvenil, prestando-lhes assistência educacional e material", pretendia organizar meninos que já exerciam a função de vendedores de jornais.
Sua instalação aconteceu à Rua Saldanha Marinho, nº 155, próximo à Catedral de Curitiba. A inauguração foi no dia do natal de 25 de dezembro de 1943. A novidade foi assim noticiada pelo jornal Gazeta do Povo, à época:
"Para a inauguração da Casa do Pequeno Jornaleiro, foi organizado expressivo programa de festejos, cuja execução obedece-à a seguinte ordem: A‘s 7 horas – Concentração dos jornaleiros na sede da rua Saldanha Marinho; A‘s 8 horas – Missa solene na Catedral metropolitana, em ação de graças, oficiada por D. Atico Euzébio da Rocha; A‘s 9 horas – Hasteamento do Pavilhão Nacional, na fachada principal da sede da Casa do Pequeno Jornaleiro; A‘s 9,15 horas – Benção do edifício, por D. Atico Euzébio da Rocha, Arcebispo Metropolitano; A‘s 9,30 horas – Café no refeitório da Casa do Jornaleiro, servindo ás autoridades. Depois de ser servido o café, dar-se-à a instalação da Casa do Pequeno Jornaleiro, que entrará assim a prestar sua assistência aos pequenos vendedores de jornais. Concretizada essa cerimônia, os jornaleiros, formados e puxados pela banda de musica e de tambores da Força Policial do Estado e devidamente uniformizados, desfilarão pelas principais ruas da cidade, em seguida, para a Grande Exposição de Curitiba, onde inaugurarão o majestoso pavilhão do Ministério da Justiça".
Na casa, os internos recebiam café, almoço e jantar, e acabou não se limitando aos pequenos jornaleiros: pequenos engraxates também passaram a ser atendidos a partir de 1957. E é importante ressaltar: os internos também recebiam a educação primária: A estrutura de ensino era dividida em 5 séries (ensino primário), onde os pequenos jornaleiros de cada série, ao final do ano letivo, eram submetidos, por uma banca examinadora designada pela Diretoria Geral de Ensino do Estado, a provas orais e escritas.
Porém, a instituição parece que nem sempre funcionou às mil maravilhas, como o projeto pretendeu: Aldo Brito Lima foi um dos internos, admitido no de 1949. Mais de 60 anos depois, em 2011, ele contou sua experiência ao jornalista José Carlos Fernandes, que publicou a seguinte história, mostrando o “outro lado da casa”, revelado pelo ex-interno, que tinha 75 anos quando deu a entrevista:
"No abrigo, cada norma uma sentença. Levantar-se às cinco. Banho uma vez por semana – gelado. Troca de roupa, às sextas. Se comprasse comida com a venda dos jornais, palmatórias. Para que bem entendesse, abriram-lhe um armário – ali dentro cumpria castigo escuro, vestido de saia, um pequeno jornaleiro humilhado. Manhã bem cedo o bedel batia a chave de ferro no osso do tornozelo para acordar os piás. Em caso de manha – pé de ouvido e nem um pio. “Tenho orelha grande de tanto puxão...”, disse-lhe um colega órfão. Não tinha graça. À mesma hora, nos mesmos pontos da cidade, tinham de fazer solos e cantar a manchete: “Morreu Francisco Alves, matou o amante em hotel da Ri-a-chu-e-lo”. No almoço, serviam feijão, arroz e carne de terceira. À noite, escola e cochilo em cima dos livros...".
(Fonte: Casa da Memória de Curitiba. - Fotos: Casa da Memória, gazetadopovo.com, Fotografando Curitiba)
Paulo Grani
Nenhum comentário:
Postar um comentário