quarta-feira, 17 de maio de 2023

O problema teórico da civilização hitita.

 O problema teórico da civilização hitita.


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Aqui temos um mapa básico dos impérios na era do bronze, com destaque para o território ancestral dos hititas, sem uma saída para o mar e sem uma grande planície aluvial.


Pode ser uma imagem de mapa e texto que diz "ASSYRIA Mediterranean Sea PALESTINE MEDIA PHOENICIA Syrian Desert Euphrates LOWER EGYPT Sina Tigris ELAM UPPER EGYPT Persian Gulf Gulf"

Aqui temos um mapa do famoso "Crescente Fértil" região do oriente médio onde emergiram as primeiras civilizações, note-se que o território primitivo dos hititas está praticamente fora dessa região.


Pode ser uma imagem de mapa e texto que diz "Fenicios Gregos Etruseos"

Aqui temos um mapa das principais civilizações talássicas da antiguidade, todas mediterrâneas.


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E por fim temos aqui um mapa do império aquemênida, com a famosa estrada real de Dário I destacada em laranja, trata-se de um "império de transição" entre as fases potâmica e talássica da civilização.

Texto autoral de: Nivaldo Aparecido Dias Muniz. 08/05/2023.
Quando falamos em história antiga, costumamos dividi-la de duas formas básicas, a primeira está ligada ao tipo de material mais utilizado pelas civilizações da época, a sua espécie de "tecnologia de ponta", ou o material básico para todo o desenvolvimento da vida material, e a segunda seguindo o padrão de organização social e a forma como as sociedades interagiam com o seu meio de convivência.
A primeira forma divide a história antiga basicamente em era os bronze e era do ferro, sendo a primeira mais antiga do que a segunda, já a segunda divide as civilizações em "potâmicas" e "talássicas", sendo a primeira a mais antiga e a segunda a mais recente.
Obs. Potâmica, vem "potamos", "rio" em grego, e "talassica" vem de "talassos", "mar" também em grego.
Assim sendo, quando se fala em "história oriental" normalmente adotamos o termo civilizações potâmicas como um sinônimo das mesmas (embora tal generalização não esteja de todo correta), por outro lado, é também muito comum encontrarmos o uso do termo "civilizações hidráulicas" na literatura especializada; estas seriam as civilizações que primeiro desenvolveram-se em grandes impérios, ou grandes pólos de "alta cultura" (que vão desde o vale do Nilo, no nordeste africano, até o vale do Huang-Ho, no extremo mais oriental da Ásia), elas se caracterizavam por possuírem uma sociedade altamente hierarquizada e virtualmente sem mobilidade, ao passo que também possuíam uma forte centralização política e uma geopolítica voltada primordialmente para o controle de vastas extensões territoriais, nelas o comércio tinha claramente um papel secundário.
Obs. O termo "história oriental" está um tanto quanto ultrapassado hoje em dia, na medida em que as correntes mais críticas da historiografia passaram a analisar a enorme pluralidade cultural das mesmas, ao passo que também identificaram que muitos dos fundamentos culturais da Grécia e de Roma eram justamente de origem "oriental"! O que vai desde os deuses e mitos (como Apolo, Dionísio e o mito do dilúvio universal), até às tecnologias características das mesmas (como a fundição do ferro, a escrita alfabética e as técnicas de construção). Nesse ponto há também de se acrescentar a problemática ligada a classificação da civilização fenícia, que por língua, religião e localização geográfica é claramente oriental, mas que não desenvolveu nenhuma das características marcantes que anteriormente associamos as civilizações potâmicas (...).
Por outro lado, quando se fala na segunda fase da idade antiga, fala-se em civilização talassica, ela é tomada quase que exclusivamente como um sinônimo de história do "ocidente", embora como já tenhamos visto isso não seja tão preciso, ela se caracteriza pelo fato de que os grandes centros de poder deixaram de se organizar em função da exploração econômica dos grandes rios e passaram a se apoiar no comércio marítimo (que apartir de então teve importância central na manutenção dos mesmos) e na navegação como fonte de riqueza e poder.
Nesse modelo de civilização, fatores que eram altamente importantes, como o controle de vastas extensões de terra, a centralização da vida cultural em torno das mega estruturas palacianas e a acumulação de grandes reversas de energia muscular humana, não eram mais tão importantes, da mesma forma que a centralização política o que, por sua vez, abriu espaço para que a hierarquia social se simplificasse e a mobilidade social aumentasse.
Obs. Enquanto as sociedades egípcia e babilônica dividiam o estamento social em governantes (rei e família real), nobres/guerreiros, sacerdotes, comerciantes, funcionários (escribas, artesãos, etc.), camponeses e escravos as civilizações talássicas adotaram apenas três estamos básicos: cidadãos, homens livres e escravos, sendo que a mudança de condição de escravo para homem livre e, eventualmente, de homem livre para cidadão era teoricamente possível (principalmente na sociedade romana).
Há, no entanto, algumas pequenas "lacunas" nesse modelo teórico de desenvolvimento civilizacional, dentre elas destacam-se os impérios persa e hitita...
A pesar de fugir do padrão, o império persa não demonstra ser um desafio conceitual para os modelos de desenvolvimento civilizatório que normalmente utilizamos em história antiga, sua posição e desenvolvimento se deu a partir das estruturas geográficas e políticas instituídas pelas civilizações potâmicas e, ao mesmo tempo, sua expansão o colocou em "rota de colisão" com as civilização talassica de maior poder na época, a grega, de modo que podemos considerar o período aquemênida, como um período de transição entre os dois grandes ciclos civilizatórios da antiguidade.
Obs. A arte, a alimentação, o vestuário e o sistema de escrita de persas e hititas sofreu uma grande influência da civilização acadiana, principalmente dos império assírio e neo-babilônico no caso dos persas, e do primeiro império babilônico no caso dos hititas, no entanto, enquanto a influência mesopotâmica na Pérsia se deu de maneira clara e direta, com os persas absorvendo o grosso da cultura acadiana com a incorporação física dos principais pólos da mesma ao seu império, os hititas absorveram essa influência de forma muito mais branda e indireta.
A parte do império aquemênida, que em si não desperta um grande desafio para a maioria das classificações relativas aos grandes impérios da antiguidade, temos o hoje famoso, mas até bem pouco tempo desconhecido império hitita, os hititas representam na prática o primeiro grande império construído a partir de um "poder continental", originários de uma região montanhosa do centro da Anatólia, os hititas não tinham acesso a grandes planícies aluviais, ou grandes rios navegáveis, assim como não possuíam inicialmente uma ampla costa marítima, ou grande frota mercante, etc.
Em plena era do bronze, a maior parte de seu poder e supremacia eram baseados na tecnologia metalúrgica e na grande riqueza mineral da Ásia menor, tão característica na antiguidade, esses aspectos atiçaram as suas qualidades guerreiras e impeliram-lhes para as áreas de influência de outras civilzações mais tradicionais do oriente médio antigo, como a Síria, a Palestina e o norte da Mesopotâmia, ainda assim, se constitui num considerável desafio compreender como, na ausência de uma grande fonte de água permanente, os hititas conseguiriam dispôr de uma "massa humana" considerável ao ponto de por vários séculos compôr todo um Estado organizado, que rivalizava com o poderoso Novo império egípcio!
Fonte: Os hititas de Johannes Lehmann, Hemus editora, são Paulo, 1980.
E aí pessoal, qual é a opinião de vocês? Como classificar o curioso império hitita?

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